domingo

Uniões e separações

Fala-se muitas vezes de separações.
Provavelmente porque, sejam quais forem as circunstâncias em que ocorram, as relações que terminam deixam sempre um travo amargo na boca.
Mesmo nos casos em que o fim traz alívio e um sentimento de liberdade, fica-se sempre com a ideia de perda. De perda de pessoas ou de bens, de perda de tempo, de perda até de um modo de vida com o qual se conviveu durante um certo tempo.
Isto, na melhor das hipóteses.
Na maioria das vezes junta-se a este sentimento de perda culpabilidades várias, raivas e zangas, recriminações. Junta-se sobretudo, a sensação de ter errado, de insucesso, de injustiça.
Mesmo que o fim das relações seja pacífico e não se transforme em litígio, fica sempre o desconforto pessoal, a frustração de não se ter conseguido.
Mas, se as pessoas se separam, é porque um dia se uniram.
Ao contrário do que se gostaria de acreditar, as pessoas unem-se por muitas e diferentes razões.
Parece uma expectativa legítima que todos possam encontrar alguém que amem e por quem possam ser amados.
Verifica-se, porém, que não é bem assim. Que a felicidade trazida de bandeja é improvável.
É verdade que, muitas vezes, as pessoas se unem por elos afectivos, mas também que nem a todos se pode chamar amor. Umas vezes são atracções fatais, paixões despoletadas, sabe-se lá porquê, que trazem ansiedades e medos, muito mais que seguranças e tranquilidades. Outras vezes, são amenos sentimentos de conforto ou protecção, que acalmam, mas não emocionam.
O que muitas vezes se passa é o "fico com quem posso e não com quem quero", ou o conformismo seja a quem for, simplesmente para não se estar sozinho.
Há mesmo quem fique com outra pessoa apenas para provar a si mesmo ou aos outros, que não tem defeito nenhum e é igual a toda a gente.
Assim sendo, unindo-se as pessoas como podem e sabem, é pelo menos compreensível que algumas uniões nunca passem de reuniões, outras descambem rapidamente para desuniões e outras ainda se transformem em relações insatisfatórias ou frustrantes.
Parece mais ajustado não matar a cabeça à procura das razões das separações, sem antes perceber o funcionamento das anteriores uniões.


Liliana.

(este texto foi enviado por Liliana Pereira)

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