sexta-feira

Do que foste quando eras pequenino, do que queres ser quando fores grande, e do que fazer nos entretantos

Com cinco anos, 1984, fui soldado soviético. Provavelmente inspiração dos meus pais que faziam parte da associação amizade URSS-Portugal, e da associação amizade Cuba-Portugal. Eu na altura não fazia ideia do que aquilo era, e nem percebia a honra de usar tal uniforme.
No ano seguinte fui médico, parece que ouve um tempo em que era moda, e inspiravam algum respeito. Mas não foi por querer. Eu queria ser o Zorro, mas a minha mãe dizia que já havia muito zorro por aí, e que andavamos todos de igual, e qual era a graça disso, e que não tinha comprado o fato, e que eu ficava melhor de médico porque de certeza que ninguém na escola se tinha lembrado disso. As mães sabem tanto. Não havia um único zorro na minha escola, em compensação os médicos eram suficientes para começar um sindicato.
Com sete anos fui cowboy. No tempo em que os cowboys eram os «bons da fita» e os índios os maus. Mas aquilo que mais me agradava eram as pistolas, sempre gostei de armas, sobretudo daquelas com fulminantes, que faziam imenso barulho e acordavam o meu avô, que por sua vez odiava armas, e me dava sempre um raspanete. Todas as pistolas que tive desapareceram mais tarde ou mais cedo pela mão desse meu avô. Todas excepto uma, que ainda guardo num frasquinho de plástico no meu quarto, que é um tubo de metal pregado a um bloco de madeira, feito por um amigo da familia. Apesar de ser a menos realista, era a minha arma favorita. Com aquela não havia como falhar.
Depois não me recordo muito bem o que fui. Mas sei que aos onze fui Conde Drácula. Com a cara pintada de branco, um pingo de sangue a escorrer do canto da boca, e uma capa genial que a minha mãe arranjou, sabe-se lá onde, e que me fazia sentir mesmo vampiro.
Sei também que uma vez fui saco de dinheiro. Daqueles que são sempre roubados nos livros aos quadradinhos do patinhas. E nunca me esquecerei daquela vez em que fui palhaço, contra a minha vontade e que me fartei de chorar. Para quem nunca viu um palhaço a chorar desalmadamente garanto-vos que é um espectáculo deprimente. Tenho fotos nessa figura. Também cheguei a ser indio. Por ironia do destino, foi uma flecha minha que partiu um quadro do Che Guevara que os meus pais tinham na sala. Foi uma cena... Ui!

Mas o que é que eu, realmente, queria ser, quando crescesse?
Aos cinco ainda não sabia.
Aos seis sabia que não queria ser médico, porque os médicos nunca estão em casa.
Aos sete queria ser cowboy, e andar por ai aos tiros às pessoas.
Aos oito já não sabia outra vez.
Aos nove acho que nem pensei nisso, estava a tentar ter melhores notas que o Tiago Monteiro (não tenho a certeza do nome) que era um convencido daqueles que choram quando têm satisfaz bastante. Isso ocupou-me.
Aos dez ser jogador do Benfica.
E dos onze aos dezaseis piloto de Formula 1.
Aos dezaseis perdi a esperança e procurei uma qualquer vocação, um dom, alguma coisa que me disesse, tu devias ser... isto. Em vão. Não descobri nada.
Dos dezaseis aos vinte e cinco já quis ser: Designer, Arquitecto, Jornalista, Professor, Advogado, e finalmente Publicitário.
Sem nunca esquecer que por trás disto tudo esteve sempre a ambição de ser Escritor. Acho que gosto de criar. Fazer coisas a partir do nada. Acho que tenho perfil para ser o Criador. Se alguma vez puserem anúncio candidato-me. (imaginem só criar a mulher... havia de ser lindo!)

E vocês? o que é que já foram? O que queriam ser? Conseguiram???

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