quarta-feira

Lisboa



Muito podia ser dito sobre esta cidade com vista para o rio. O esplendor da sua noite iluminada, a beleza da sua arquitectura pombalina, a sua luz tão própria, os cheiros, as gentes... tanto ficaria por dizer. Nós contentamo-nos por reconhecê-la como cidade mulher, onde todos nos aconchegamos, em cada colina, na hora do desejo, do descanso e do sonho.

Numa noite estrelada passeamos à luz da lua e dos candeeiros antigos, que povoam as ruas dos bairros tipicos de Lisboa. Alfama parece-nos especialmente encantadora. Com uma luz muito própria, e com a alegria e vivacidade caracteristicas das pessoas quando saem à rua. Em plena rua principal estranhamos a imensa quantidade de gente à nossa volta, as pessoas que assomam às janelas, o burburinho, a algazarra de antigamente,que já tínhamos esquecido.

O que terá acontecido?

A nossa mente explode em mil questões e outras tantas hipóteses, mas qual o porquê de tamanha agitação...

Decidimos investigar.

Por entre o riso e as conversas ouvimos os acordes de uma guitarra, que, acompanhada pela viola, nos arrepia a espinha, e nos lembra outras noites, outros tempos. De repente faz-se silêncio. Um silêncio respeitador, um misto de espanto e admiração, um silêncio total... todos os olhares se viram para o palco.

Vai-se cantar o Fado!

Naquele palco, bem a propósito, alguém que nos é estranho, um desconhecido, limpa a garganta e prepara-se para cantar.

Olhando à nossa volta reconhecemos algumas caras, todos vieram ouvir cantar o fado, mas não só. O sr. António da mercearia veio para cantar, e a Dona Rita do andar de cima também.

O meu bairo enche-se de vida, repleto de emoções cantadas na noite, sob o luar luminoso de um céu sem núvens. As pessoas escutam espantadas aquele fado que lhes vai aquecendo o coração, com estórias já esquecidas, de amores impossíveis, de saudades dos que partiram e do destino triste dos que ficaram.

As pessoas do meu bairro sairam à rua, para ouvir cantar o fado, e quem por ali passava também parou, encantado e curioso, o fado vadio chamou a atenção de todos com a força própria das tradições antigas.

Onde está esta cidade? Onde estão este calor humano, e esta brandura na forma de ser? O que fizemos a Lisboa? Provavelmente o mesmo que fizemos ao Fado. Esqueçemos.

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